Meu hetero favorito livro

Quando me perguntam sobre qual é meu livro heterossexual favorito, geralmente fico em silêncio. Isso não significa que eu não goste de livros que tenham protagonistas heterossexuais, mas existem tantos livros onde a heterossexualidade é um pré-requisito para que a história funcione que a escolha se torna difícil. No entanto, recentemente, eu li um livro que se destaca por sua abordagem sensível da heterossexualidade sem cair em clichês ou estereótipos. Este artigo é dedicado a essa obra literária.

O livro que estou me referindo é “Norwegian Wood”, do escritor japonês Haruki Murakami. Embora a obra seja conhecida por seu enredo sombrio e melancólico, sua subtrama principal envolve um triângulo amoroso entre três personagens heterossexuais: Toru Watanabe, Naoko e Midori. Toru, o personagem principal, é um típico estudante universitário japonês, que tem que lidar com o luto pela perda de um amigo e o amor por duas mulheres diferentes. A escrita de Murakami, ao mesmo tempo em que é introspectiva e poética, não idealiza a heterossexualidade a ponto de romantizar seus efeitos negativos. Em vez disso, a obra apresenta as tensões e conflitos que surgem quando sentimentos amorosos são colocados em jogo.

Um aspecto que torna “Norwegian Wood” um livro tão cativante é a complexidade dos personagens. O livro não pinta nenhum dos personagens como vilões ou heróis, no entanto, faz com que todos eles sejam sendo humanos completos e multifacetados. Toru, o personagem masculino principal, é um personagem simpático e pensativo, que é ao mesmo tempo corajoso e vulnerável. Seus sentimentos por Naoko, uma estudante universitária que sofre de depressão, são genuínos, mas é claro que suas emoções por Midori, uma jovem enérgica e espirituosa, também são intensas. Naoko, por outro lado, é uma personagem que luta com suas emoções e seu passado complicado. A obra aborda a heterossexualidade não como um poço sem fundo de paixão e amor incondicional, mas como uma instituição enraizada em emoções complexas.

No entanto, a maior qualidade literária de “Norwegian Wood” é que a heterossexualidade não é exatamente a única coisa que impulsiona a história. Embora a subtrama romântica seja um elemento importante, o livro também lida com questões universais como a morte, a amizade, o amor platônico, a sexualidade e o sentido da vida. O protagonismo heterossexual é tratado como uma das muitas facetas que compõem a vida dos personagens, em vez de ser o único fator que determina suas existências.

Embora “Norwegian Wood” seja um livro incrível, isso não significa que ele seja perfeito. Como uma obra literária escrita no final dos anos 80, a representatividade de personagens queer e LGBTQ + é praticamente inexistente. O livro não transmite uma mensagem prejudicial à comunidade, mas a falta de representatividade é, sem dúvida, uma falha.

Como leitor, acredito que é importante ler livros que representem uma ampla variedade de experiências de vida e sexualidade. Embora a heterossexualidade seja uma das expressões mais comuns de amor e afeto, a comunidade queer e LGBTQ + merece a atenção e representatividade na literatura.

No entanto, isso não significa que o protagonismo heterossexual deve ser inturnado em detrimento de outros tipos de protagonismo. “Norwegian Wood” é um exemplo maravilhoso de como histórias heterossexuais podem ser abordadas de uma forma sensível e não idealizada. Ele nos lembra que a heterossexualidade pode ser tão complicada quanto qualquer outra expressão de amor e que é importante não rotular os personagens por sua orientação sexual.

Em conclusão, “Norwegian Wood” é meu livro heterossexual favorito por sua abordagem equilibrada e sensível da heterossexualidade. Embora a representatividade LGBTQ + seja importante, o livro serve como um lembrete de que a heterossexualidade não deve ser demonizada ou idealizada além de sua real importância na vida das pessoas. Ao ler essa obra literária, acredito que podemos aprender a apreciar a beleza da diversidade e da complexidade humanas.

Referência bibliográfica: Murakami, H. (1987). Norwegian Wood. Tóquio: Kodansha International.